sábado, 18 de junho de 2016

O Tambor de Mina

O Tambor de Mina é fruto do processo de transculturação acontecido entre três matrizes religiosas tradicionais – o Candomblé, a Pajelança e o Catolicismo –, que por sua vez, são originárias das matrizes étnicas, negra, indígena e branca.
No Tambor de Mina tudo salta aos olhos e pode ser visto de modo espetacular: o espaço e sua ambientação, carregados de elementos simbólicos da religião, tais como estátuas em tamanho real de entidades como orixás, encantados e caboclos; altares com vários e diferentes elementos da religião, tais como velas, copos com água, pedras, imagens fotográficas ou estátuas de entidades e santos católicos, que também estão em outros espaços do terreiro; e os atabaques. A vestimenta distingue pais e mães de santo de seus filhos, assim como das entidades, que se caracterizam de acordo com sua família de origem – uns mais bem vestidos que outros, utilizando brilhos na roupa, anéis, pulseiras e cordões. Quando começa o ritual, seja ele no “Tambor” propriamente dito, seja na “linha de cura”, começa definitivamente a performance da espetacularidade, pois aos sons dos atabaques, dos maracares ou da sineta, as ações que compõem aquela esfera ritualística se voltam para os cantares, para os festejos ou para o cumprimento de alguma obrigação nos ritos da religião, a exemplo da chegada dos protagonistas (entidades) no espaço ritual: voduns, orixás, caboclos, encantados, nobres, reis, entre outros.
Com a incorporação das entidades pelos médiuns, em especial de voduns, encantados e caboclos, percebem-se transformações em seus estados de corpo e de consciência. Os “estados de consciência” interessam a Etnocenologia por causa dos rituais, que costumam provocar alterações na consciência ordinária – modo mais habitual de se ter consciência do mundo e de si próprio – dos adeptos. Os “estados de corpo” se referem às alterações nos estados do “corpo do dia-a-dia”, induzidas, principalmente, pela utilização de técnicas mentais-corporais extra cotidianas. São essas mesmas técnicas que servem de gatilho para as mudanças nos “estados de consciência” dos adeptos – principalmente dos médiuns.
A função de lidar com o sagrado, presente no Tambor de Mina, está relacionada às tradições religiosas vindas do sincretismo católico com a pajelança cabocla, funções estas que marcam ou mudam a identidade do Tambor, pois como se sabe, a Mina do Pará difere, e muito, da Mina Maranhense, criando cada vez mais estímulos para o seu acontecimento. No contexto sagrado das práticas religiosas do Tambor e Mina, fazem-se presentes outras funções importantes, tais como: “linha de cura”, por meio da qual se realizam ritos de pajelança; e “atendimentos”, através dos quais se receitam remédios caseiros, banhos, benzedura, orientação pessoal, entre outros.

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